quinta-feira, 3 de maio de 2012

Desenvolvimento da BSE

Acredita-se, portanto, que a BSE tem origem na alteração conformacional da PrPc em PrPres. Estas duas proteínas têm o mesmo número de aminoácidos (231 a 253, aproximadamente) (2), sendo, portanto, do mesmo tipo, e diferem apenas na sua estrutura tridimensional: a PrPc apresenta folhas alfa-helicoidais que são convertidas em folhas beta, o que torna a PrPres insolúvel e, portanto, mais resistente (3, 19).

Como já foi referido, a PrPc encontra-se maioritariamente nas células nervosas dos hospedeiros que possuem, por sua vez, um gene que a codifica, o PRNP (3)Esta proteína possui diferentes domínios, incluindo um sinal peptídico no extremo amino-terminal (cerca de 100 aa), uma série de cinco repetições de octapéptidos ricos em prolina  e glicina, um segmento central hidrofóbico altamente conservado e uma região hidrofóbica no extremo carboxilo-terminal (~ 100 aa). Esta região é estabilizada por uma única ponte dissulfureto, é constituída por três -hélices e duas folhas  e funciona como um sinal para a adição de uma âncora de fosfatidilinositol  à membrana, o que permite que a PrPc se mantenha à superfície das células. Como acontece com qualquer proteína, a PrPc é sintetizada no RER e transportada para o Complexo de Golgi. Durante a sua biossíntese, sofre diversas modificações pós-transduccionais, ainda não totalmente esclarecidas, tendo-se verificado que a proteína tem tendência a modificar-se para a sua forma patogénica. (1, 2, 19).

Ilustração 5 - PrPc

Quando se dá a sua conversão em PrPres, esta nova forma patogénica tende a formar agregados parcialmente resistentes (11) a proteases (nomeadamente a protease K), sejam elas endógenas ou exógenas (1, 2).




Ilustração 6- Diferenças conformacionais entre PrPc e PrPres (2)



Como muitos priões entram no organismo através da ingestão directa (20), verifica-se que muitos destes conseguem viajar desde o tracto digestivo até ao sistema nervoso central (2, 19). Ao chegarem ao intestino, estas proteínas infecciosas penetram na mucosa e alcançam as placas de Peyer (2), onde se depositam e replicam ao nível das células dendítricas foliculares [1]. Embora não haja certezas quanto à forma como os priões alcançam efectivamente as CDF, foram propostos como transportadores vários tipos de células, nomeadamente os enterócitos, os fagócitos mononucleares e as células M, sendo as últimas as mais aceites actualmente.


As células M são células especializadas no transporte transepitelial de macromoléculas e de alguns antigénios. Embora permitam ao organismo do hospedeiro uma adequada resposta imunitária ao nível do lúmen intestinal, as células M são muitas vezes “exploradas” por microorganismos patogénicos que as usam para entrar na mucosa, como se acredita ser o caso dos priões (20).


Ilustração 7 - Transporte transepitelial de priões

Além das CDF, acredita-se que os priões também se depositam e replicam no sistema linforreticular (vasos e nódulos linfáticos), de onde avançam através do sistema nervoso periférico até alcançar o cérebro do hospedeiro, onde acabam por se acumular (2, 19).




Os priões possuem outras características, nomeadamente a sua resistência ao meio externo e a acções físico-químicas, sendo capazes de suportar condições extremas: embora muitos (senão todos) fiquem inactivados, em condições normais, a temperaturas entre os 134  e os 138 , outros toleram, em condições de calor seco, temperaturas até aos 360 . Além disso, suportam grandes variações de pH, desde valores muito ácidos a muito alcalinos, podendo permanecer nos solos por um período de 3 anos (1, 19, 20). Apesar da sua elevada resistência, os priões são sensíveis ao hipoclorito de sódio [1] (1).


Tabela 3 - Diferenças entre PrPc e PrPres (2).




Existe uma barreira de espécies que, teoricamente, restringe a transmissão de doenças priónicas entre diferentes espécies de mamíferos. Tal acontece porque os genes PrP dos mamíferos são altamente conservados, o que leva a que apenas um número limitado de conformações da proteína PrPres seja termodinamicamente favorável. Visto que priões de duas espécies diferentes terão muito provavelmente poucas semelhanças conformacionais, a barreira de transmissão será muito elevada e impedirá, normalmente, uma infecção por priões. Se houver, no entanto, uma grande semelhança conformacional entre as PrPres de duas espécies diferentes, a transmissão de encefalopatias espongiformes transmissíveis é mais simples e viável (2).











[1] Células presentes nos folículos dos linfócitos B e nos centros germinativos do tecido linfóide.
[2] Mínimo de 2% de Cloro ou de Hidróxido de Sódio 2N, aplicado durante mais de uma hora a 20º  para as superfícies, ou durante uma noite para o material.

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